acordamos devagarinho. primeiro os olhos, depois os ombros. acordamos por fim as pernas, mas só depois da inevitabilidade do novo dia. ontem adormeceste com a janela aberta, tinhas calor de amor. mas nesta primavera as folhas continuam a cair, cá dentro, e não chegam a tocar o chão. e assim vai ser até ao verão. é um movimento cíclico: descem do teu peito acabado de acordar até à cintura - volante do teu corpo - e voltam ao peito. dormes e acordas e elas continuam a cair. crias daquela queda florescente a vontade para as próximas horas e sais. mas demiurgo é o meu acto quando, de pé sobre a minha cama, encolho os ombros e rumino frases que vão ser o dia de hoje. aconchegada na minha profecia não me vou lembrar que saíste, que ali estiveste, que as folhas caíram. não vou sequer lembrar a tua nudez pela minha casa fora. demiurgo é o meu acordar e ser um homem e esquecer que sei dançar.
quando te encontrar de novo vou fingir que respiro.
4 comments:
Vira o volante do teu corpo para o ar e respira sempre. As folhas caem, mas é só para dar lugar a outras, mais novas e mais frescas, assim acontece com as árvores no Outono e depois na Primavera.
Mas nem sempre as nossas estações correspondem às estações intituídas nem têm a mesma duração.
As palavras de Abril nunca cansam...
muito muito bonito. e bom.
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