Wednesday, April 12, 2006

abril

não devo nada agora, só a mim, a vida que mereço. (mas até o quixote doente sabia que a dívida de mim para comigo é mesmo a mais difícil de saldar. pobres os dois, eu e ele.) e lá do fundo, do riso das crianças e do chiar dos baloiços na hora do almoço, vem a calma que não consegues explicar e que é o sol. mas para uma hora destas há mil outras de chuva — e não fosse só ela, vêm também raios e trovões e enxurradas que te limpam, certo, mas tornam ainda menos positivo o saldo do teu dia. é só mais um, um a menos.
diz o menino: quem é que quer ganhar? — pergunta de criança, pois.
partida, lagarta, fugida. e a chatice de um empate.
no entretanto, da fita de seda com que cubro os olhos vão-se soltando linhas mais finas que cabelos que guardo para coser os teus lábios quando me cansar de te ouvir dizer: não gostes de mim.