Thursday, December 01, 2005

anergia

parei à espera do arrepio, que não veio, e depois acendi a luz e das linhas do papel pularam autos de fé que me queimaram os dedos - mas só as pontas, que eu já os tinha avisado que sem as mãos não podia trabalhar. e então veio ela e lançou-me água gelada em cima. com a cinza que me sujava as mãos escrevi na parede coisas que não sabia, como o que pensaste quando te contei que a cidade era vazia quando eu fechava os olhos e te via só a ti, sem roupa, sem frio, sem vergonha, a estender as pressas no jardim. ela leu tudo, mas não se pasmou. já lhe tinhas contado. tu mesmo, acredita. porque aqui deste lado todos falam verdades. aqui deste lado todos sentem saudades. e aí também, que eu bem sei. não vivesses sempre com as janelas bem fechadas, não dormisses sempre de pijama, não acordasses sempre sem olheiras, não tivesses todos os dias quem cozinhasse para ti, não lavasses tu, todos os dias, os pés com água benta e eu dizia-te: - sim, tens razão!

6 comments:

Anonymous said...

Sem dúvida um óptimo titulo

Anonymous said...

Bem,Joana, acho que já não te conheço!Se calhar nunca te conheci! Fiquei surpreendida com o teu "jeito" para a escrita!Gostei particularmente deste(anergia).Muito bem escrito! Continua o bom trabalho! Vais muito bem!
(Não te esqueças de sonhar!)

Anonymous said...

Ando com a sensação que já li este texto em algum lado.Verdade???!!!

joana said...

só o podes ter lido aqui, margarida. aqui ou no meu caderno, mas aí duvido que tenha sido. não te conheço, não é?

Anonymous said...

Se calhar li num caderno teu que a silvia me tenha mostrado, é possivel!!Mas olha,está muito bom , gostei muito!!Não tens mais?E claro q me conheces! Eu não conhecia era este teu "dom"

Dinis Lapa said...

Mas é claro que a Joana tem jeito pra escrita. Gostei do texto. :)