Friday, January 23, 2009

embriagai-vos

é preciso estar sempre bêbado. tudo reside nisso: eis a questão. para não sentirdes o horrível fardo do Tempo que esmaga os vossos ombros e vos inclina para a terra, precisais embriagar-vos sem tréguas.
mas de quê? de vinho, de poesia ou de virtude, à vossa vontade. mas embriagai-vos.
e se às vezes, nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, na morna solidão do vosso quarto, acordardes, a bebedeira leve ou curada, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio, responderão: «são horas de embriagar-se! para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem parar! de vinho, de poesia ou de virtude, à vossa vontade.»
charles baudelaire, in o spleen de paris